Jesus nos ensina, Não
Temer!
O governo traiçoeiro que
administra o Brasil, juntamente com todos os seus desmontes, reformas e PECs,
inviabiliza cada dia mais a vida da classe trabalhadora desse país. Diante de
um cenário tão sombrio é muito fácil perder a esperança ou não perceber alguma
luz no fim do túnel, mas a tarefa cristã é, principalmente em momentos de
tribulação, recorrer ao Mestre como inspiração para luta e auxílio na tomada de
decisão sobre quais gestos precisam ser realizados.
A vida em sociedade é uma condição necessária para o ser humano, desde
Aristóteles é muito claro que não há como viver fora do contato com outras
pessoas. As relações em sociedade são
reguladas por normas e leis que buscam evitar criação de danos a vida,
dignidade e direitos do outro. Na
prática, surgem pessoas que adquirem poder e usam-no para legalizar a
opressão sobre determinados setores da sociedade, não só hoje, no tempo de Jesus também era assim, Ele conheceu a tirania do Império Romano e tem
algo a nos ensinar, principalmente num
Brasil em que os ricos buscam lucros cada vez maiores e não
vêem como problema se o preço a pagar for o futuro da juventude brasileira ou o
momento presente das frações sociais que vivem nas margens.
Ontem e hoje, os três poderes
bebem o sangue da classe trabalhadora como se fossem vampiros adestrados pela
burguesia nacional e internacional. A ordem é aumentar os lucros e baixar
custos, principalmente devido à situação de crise econômica, então sem mais
delongas aprovou-se o congelamento em investimentos em diversos setores
públicos, a saúde e a educação são exemplos disso; aposentadoria será um item
que só ouviremos falar; sem participação de estudantes e professores, sem
discussão de verbas e sem verificação de viabilidade, o Ensino Médio caminha
para um abismo, que é a sua “reforma”; a escravidão foi facilitada, isso no
país que caminhava a passos largos no combate ao trabalho escravo, agora todos
os avanços caíram por terra e a bancada ruralista, assim como os demais
latifundiários desse país podem tranquilamente enganar, encarcerar e escravizar
o camponês, além de tantos outros absurdos que os três poderes praticam todos
os dias.
Os ricos gestaram a crise, mas os mais pobres que pagam a conta. As
pessoas que cortam os direitos da maioria dos brasileiros são as mesmas que
aumentam os seus privilégios, O que fazer diante disso? Existe alguma saída
contra a tirania? Devemos calar? Devemos fugir? Enfim, Jesus pode nos ajudar a
entender o que deve ser feito ou no mínimo apresenta possibilidades de ação no combate a injustiça.
O Império Romano é marcado pela fome
(Atos 11, 28) e pelo derramamento de sangue (Atos 12, 1-2) (Marcos 6, 27). A
disseminação do caos, medo e morte não tinha idade mínima para os imperadores,
pois até crianças sentiram a fome por poder e violência da espada do Estado
(Mateus 2, 16). Neste contexto em que Cristo viveu, o povo foi subjugado a tal
ponto que os soldados tinham o poder de ordenar que alguém carregasse objetos
por mais de um quilômetro e
bater nas pessoas como punição a possíveis desobediências (Mateus 5, 39–41),
por esses exemplos é possível perceber o nível de crueldade sofrida pelos
judeus.
A
brutalidade romana não se encerrava no uso da força dos seus exércitos, mas
também estava no aspecto econômico do Império. A forma de organização da
cobrança de impostos acentuava a desigualdade social, sem nenhuma piedade com
os mais pobres (Mt 17, 24-27). O contato com sangue tornava uma pessoa
necessariamente impura, adivinha quem tem contato mensalmente com sangue? As
mulheres pobres estavam condenadas a marginalização (Mc 5, 25-34). Além do
derramamento de sangue, os romanos desejavam o acúmulo de ouro.
Jesus
encontra-se na contramão desse cenário da busca por poder e ouro, Ele não
legitimava as injustiças e cuidava dos injustiçados; seus gestos representam a
resistência pacífica aos opressores (Mateus 5: 38 – 41). O cultivo do ódio e
rancor não está presente na proposta semeada por Cristo, n’Ele temos o amor e o
perdão como força motriz dos pensamentos e ações (Mateus 6: 9-15).
O mesmo Cristo que convida ao amor e
perdão também ensina a não viver acorrentados ou orientados por uma força
corrupta e injusta. Jesus enfrentou o poder romano porque não tinha medo dele
(Mateus 14, 22-33). A força tirânica imperial vinha através das águas e Ele as
encarou. Assim como Pedro, somos questionados se viveremos temendo e nos
acostumando a sermos vítimas de maus governantes.
A lei que nasce da injustiça não
serve aos propósitos de Cristo, ele as subverte (João 8, 1 – 11). As leis devem
servir para construção de uma sociedade mais justa (Marcos 2, 27) de modo a que
todos tenham vida plena e abundante (João 10, 10). Devemos aprender com Jesus,
não seguir ou legitimar líderes que não se apóiam no amor, justiça e o bem
comum. Os ensinamentos do Mestre nos orientam a fundar um novo tipo de
sociedade regulada pela fraternidade e cuidado.
Um grande homem de prática cristã, Martin Luther King, nos ensina
que temos a obrigação de desobedecer às leis injustas, assim como Cristo fez. O
Brasil é um ônibus que caiu da ponte, mas só os pobres saíram gravemente
feridos do “acidente”.
Diante da barbárie romana, Cristo
revoluciona as leis e não abaixa a cabeça mesmo quando foi preso e torturado,
buscou o fim da exploração humana e a possibilidade de que a vida feliz fosse
possível para todos, principalmente para os que se encontram a margem (Mateus
11, 28 – 30) (Lucas 4, 18-19). Frente à crueldade de Temer e seus aliados,
devemos subverter a lei, perturbar o juízo dos três poderes, tirar o sossego
daqueles que assumiram o poder para destruir a vida e o futuro dos brasileiros,
principalmente das pessoas que estão nas situações de maior precarização.
A obrigação de quem acredita na
proposta de Cristo é não temer ou tremer diante do opressor, não aceitar
correntes, não silenciar quando presenciar a injustiça e testemunhar uma
sociedade em que todos são livres e iguais (Rm 10, 11-12) (Gl 3, 28-29). Temer, suas PEC’s e reformas, são
representação do oposto da oferta que Jesus nos faz. Não devemos tolerar esse
governo e seus desmontes, assim como precisamos buscar saídas para enfrentá-lo.
Carlos Nunes
Professor de Filosofia
Articulação da Pastoral da Juventude - Sergipe